Maurício Cauduro (crônica)

AGRADECIMENTOS

      As telenovelas são muito importantes. Não há dúvida disso. Afinal, elas estão presentes no horário nobre das emissoras há algumas décadas e se tornaram o produto televisivo mais popular do país. Só na nossa maior e mais poderosa emissora são três episódios de novelas diferentes todas as noites, de segunda a sábado. Existe toda uma indústria, que produz incessantemente, as telenovelas do Brasil. E também existe uma legião, uma verdadeira seita de telespectadores devotos, que as assiste religiosamente. Por isso elas são tão importantes, influentes, imprescindíveis na vida de milhões de brasileiros. Devemos muito do que somos e pensamos a elas. Devemos no mínimo agradecer.           

     Muito obrigado às novelas. Obrigado por nos ensinar que tudo se resume ao bem e ao mal. Afinal, ou as pessoas são vilões, que tramam maldades o tempo todo, ou são mocinhos, corretos e honestos 24 horas por dia, 7 dias por semana. Mas não devemos nos preocupar, pois os malvados sempre morrem ou são presos ou, no mínimo, são punidos de alguma forma no final. Quem é bonzinho encontra o amor da sua vida, se casa e resolve todos os seus problemas. Igualzinho como acontece na vida real, não é? Obrigado às novelas por nos transformarem em espectadores passivos de uma realidade tão verossímil quanto uma nota de 3 reais. Obrigado às novelas por desfilarem todos os dias os mais perfeitos modelos físicos de atores e atrizes. Elas nos ensinam que, se quisermos ser bonitos e interessantes, temos que usar as mesmas roupas, os mesmos cortes de cabelo e temos que agir igual aos seus protagonistas. Obrigado às novelas por criarem essas celebridades que tanto admiramos. Obrigado às novelas por desenvolverem essa saudável fascinação irracional pelo mundo dos famosos. Obrigado às novelas por ocuparem todas as nossas noites, dessa forma não precisamos ler um livro ou escutar música, ou realizar qualquer outra atividade produtiva, já que dedicamos nosso precioso tempo livre a elas. Obrigado às novelas por nunca nos abandonarem, quando uma finalmente termina logo é substituída por uma nova muito parecida com todas as outras que já vimos. Obrigado às novelas por serem assim, essencialmente iguais, todas cópias umas das outras, nos exigindo o mínimo possível de reflexão. Obrigado às novelas por desviarem nossa atenção de assuntos chatos que não possuem nenhuma importância, como política e economia. É muito mais relevante assistirmos ao vilão se dando bem em cima do casal de mocinhos do que acompanhar as investigações da CPI dos cartões corporativos ou a escolha dos candidatos para as eleições municipais. Enfim, obrigado às novelas por nos alienarem de uma maneira tão sedutora e eficaz. Realmente, para esse propósito a televisão brasileira é imbatível.     

       As telenovelas são muito importantes. Não há dúvida disso. Portanto, não me surpreende a notícia de que, atualmente, as novelas brasileiras já são vendidas para mais de 30 países. Tenho certeza de que, com o tempo, se tornarão tão assistidas e louvadas lá fora quanto são em nossas terras. E quando esse dia chegar os gringos também terão muito o que agradecer.    

Muriel Pinheiro (crônica)

A VIDA EM DEBATE

 Com tanta repercussão na mídia, seria praticamente impossível ficar alheio ao assunto que domina desde o senado até as conversas de bar: a polêmica da Lei de Biossegurança.De um lado, cientistas e pacientes desesperados para começar suas pesquisas e, de outro, religiosos e filósofos querendo vetar a lei. Não sou radical, por isso procurei entender cada parte antes de dar minha opinião. Isso me levou a sérias reflexões filosóficas, confesso. Direito à vida? À qual vida, portanto? Seria a vida de um embrião mais importante do que a vida de uma pessoa que fala, pensa e sente dores? Sou católica praticante, e minha tendência sempre foi apoiar as decisões da Igreja. Mas, sinceramente, nesse caso, não encontrei argumentos convincentes, ainda que fossem muitos, que justificassem o fim das pesquisas com esse tipo de célula. É claro que não seremos hipócritas de dizer que, com sete dias, o embrião não é uma forma de vida humana, já que todos sabem que a vida se dá na fecundação, mas, por outro lado, não seria muito mais cruel deixar esses embriões esquecidos em congeladores por um tempo indefinidamente longo? E, pior ainda, proibindo o acesso de pessoas que poderiam utilizá-los para o bem de toda a humanidade? Para responder a estas questões, muito mais do que ética, é preciso bom senso. Além do mais, trazer questões éticas e jurídicas à tona para impedir que esperança de cura seja dada a pacientes em estado terminal ou a portadores de doenças degenerativas não me parece uma atitude humanitária. Que me perdoe minha Santa Igreja!Assim, fico ao mesmo tempo aliviada, por saber que a tendência do Senado é votar a favor da lei, e entristecida, por perceber o atraso em que a Igreja Católica se encontra, não só nesta como em várias questões. A esperança é que nossos religiosos utilizem mais coerência e menos dogmas na hora de tratar de assuntos tão delicados.Pois a vida é direito de todos, sim. E não propriedade da Igreja.  

OLÁ MUNDO!

Faz tempo que queremos mostrar os textos da Fabico para o mundo. Pois a hora chegou!

Deliciem-se com os textos produzidos pelo pessoal do 2o. e 3o. semestre do curso de Comunicação Social da UFRGS!